O medo do julgamento alheio: o grande inimigo do mercado de comportamento canino.

Olá pessoal! Hoje eu quero abordar um assunto importante, que pode ser um fator determinante para o futuro dos cães domésticos urbanos e suas famílias: o julgamento alheio. Pois é, aqueles olhares estranhos, os comentários nas redes sociais, o isolamento dos grupos e por aí vai.

É curioso vermos como numa época aonde se prega diversidade e inclusão, nada disso parece ser válido no universo de comportamento canino, adestramento e treinamento de cães. É como se estivéssemos vivendo numa ditadura invertida aonde aqueles que pregam fantasias não toleram a realidade.

Todos vocês que tem cães, e já fizeram algumas pesquisas pela internet, devem ter visto como existem opiniões diversas a respeito de todos os aspectos do comportamento canino, adestramento ou treinamento de cães. Alguns usam certos tipos de equipamentos, outros não, alguns preferem treinos mais ativos, outros mais passivos e está tudo bem. As diferenças fazem de nós indivíduos com nossas características específicas, e isso é muito válido no aprendizado com cães, porém, nem tudo são flores na arena pública.

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Ao longo dos anos eu tive a oportunidade de conhecer diferentes profissionais dessa área. Muitos que trabalham primordialmente com modificação comportamental e adestramento. Infelizmente, muitos desses profissionais optaram por não divulgar seu trabalho de forma mais clara e transparente por medo de possíveis reações negativas do público em geral. Isso inclui alguns pontos principais como;

  • Não falar sobre correções ou punições.

  • Não mencionar o uso de equipamentos de treinamento como e-collar, prong collar, caixa de transporte, bonker ou guia unificada.

  • Não publicar vídeos mostrando o seu trabalho em detalhes.

  • Usar termos como adestramento positivo para criar uma imagem mais favorável.

  • Encher o Instagram e o Facebook de fotos bonitinhas sem conteúdo educativo.

  • Não explicar o processo de treinamento que cada cachorro passa, seja em vídeo ou em qualquer outro formato.

Muitos de vocês podem estar se perguntando se todos os profissionais deveriam agir da mesma maneira. Afinal, será que não existem treinamentos diferentes? Claro que existem, porém, eles não aparecem, ou melhor, não como deveriam aparecer.

Mesmo os profissionais, que optam por não usar equipamentos de treinamento como os que citei acima, precisam mostrar o que fazem, e como fazem, se realmente querem ajudar as pessoas com seus cães. Mas aí é que está a grande questão: porque não mostram? Se o mantra hoje é “eu amo os cães e quero fazer o melhor por eles na minha profissão” então o que essas pessoas estão esperando para colocar esse material na internet?

A resposta está no julgamento, no risco que se corre quando expomos nosso trabalho. É quando as águas se dividem e só aqueles que realmente querem ajuda vão ficar. Essa porcentagem é bem pequena em comparação com o público que se diz amante dos cães. Mas essa conclusão tem que ser aceita como uma coisa positiva pelos profissionais e não o contrário. Afinal essa é a nossa missão!

Analisando pelo lado psicológico da coisa, é interessante ver como essa postura é contra produtiva, especialmente quando se manifesta em profissionais da área, que deveriam ser os exemplos para seus clientes. Imagine só se você é um dono de cachorro, que contrata um profissional para te ajudar a resolver os problemas com seu cão. Você não sabe muita coisa sobre ele porém, nas aulas ele menciona restrições, uso de guia, uso de caixa de transporte e outras práticas que exigem mais dedicação da sua parte, inclusive uma rotina com caminhadas diárias.

Conforme as aulas vão desenrolando você se vê em situações aonde pessoas da sua família, amigos e até estranhos começam a te questionar sobre o que você está fazendo com seu cão - isso é super normal. Você se sente encurralado e procura justificativas para mostrar que esse é o processo de treinamento. Aonde você buscaria informação para fortalecer o seu argumento? No profissional, certo? Porém, você não encontra nada, em detalhes, nas postagens da empresa - em redes sociais - ou no website. Você não encontra vídeos mostrando esse processo, nem mesmo o próprio profissional fazendo o que ele te indicou com os cães dele.

Em que universo isso faz sentido? Como você pode seguir as orientações de uma pessoa que não faz o que fala, ou se faz, não mostra? Em algum momento você vai se questionar. Será que esse mesmo profissional não tem as mesmas inseguranças que você? Será que ele não mostra o que faz pelo mesmo medo do julgamento alheio que você está sentindo agora? Se ele é assim, como ele pode ajudar alguém a superar um problema que nem mesmo ele superou?

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Muitos profissionais usam o argumento de que estudaram muito para chegarem aonde estão e não acham justo compartilhar todo o seu conhecimento, gratuitamente, através da internet. Essa turma acredita que o cliente deve pagar para saber qualquer coisa, e que quem divulga informação de graça só vai perder dinheiro.

Essa postura, na minha opinião, é mais uma justificativa para se manter atrás das cortinas e não mostrar de verdade o que tem para oferecer. O medo do julgamento ainda está aí, porém o fator que determina o grau desse medo está diretamente ligado à possibilidade de receita dentro do universo da desinformação. Isso é lamentável, especialmente no universo de hoje, com tantas possibilidades de expor seu trabalho de forma simples e prática, podendo ajudar milhares de pessoas ao redor do mundo.

Meu conselho para todos vocês que estão começando nessa área é simples: sejam honestos com vocês mesmos e entendam seu propósito dentro desse trabalho. Esse é um mercado de soluções para pessoas. Cada cachorro, que vive com uma família que não sabe o que fazer com ele, está com os dias contados. Esses são os futuros cães abandonados, ou mortos dentro de brigas, muitas vezes dentro da própria casa. Esses são os cães que passam boa parte da vida confinados em quintais, em varandas, em banheiros, sem nunca sair de casa. Esses são os cães que são largados nas estradas nas festas de fim de ano.

Muitos de vocês podem dizer que a culpa é dos donos e é deles a responsabilidade de pagar para ter acesso à seu conhecimento. Eu digo o seguinte: esses donos tiveram acesso à informação que encontraram, muitas vezes na internet, que vendia apenas o mundo da fantasia. Eles seguiram as instruções com base no que viram e acharam bonito. Sabe porque eles não fizeram certo? Porque você, profissional, falhou em ocupar o seu lugar nessa arena de informação pública. Você falhou em mostrar o que é certo e deixou que os gigantes do mercado pet dominassem a mente dessas pessoas com informações que só visavam a venda de produtos e serviços que nunca trouxeram resultados reais.

Sim, eu estou concentrando a culpa de tudo isso na classe dos profissionais. Nós, que fazemos isso todos os dias, que vivemos essa realidade, que testemunhamos casos difíceis, sabemos o que precisa ser feito. É nossa a responsabilidade enfrentar esse julgamento com a cabeça erguida, sabendo que o que vale são as vidas que serão salvas - de cães e pessoas. Se nós, que vemos toda essa realidade, nua e crua, não fizermos nada, o prognóstico para os cães das próximas gerações é péssimo.

Eu sei que ser julgado é difícil, que ser questionado pode ser frustrante, e que ser isolado de grupos pode te fazer repensar sobre a sua escolha de profissão. Mas esse é o trabalho! Ninguém faz a diferença no mundo apenas seguindo a onda do momento ou fazendo o que todo mundo já faz. No final o que fala mais alto é sempre a verdade, os resultados reais. Quem não quer ver a verdade sempre vai te questionar. Quem quer ajuda de verdade, vai te agradecer eternamente pelo que você faz.

Fazer vídeos, textos, artigos e postagens não é apenas uma escolha, é uma necessidade do nosso mercado. No universo digital essa é a única forma que a informação tem para circular e alcançar as pessoas que buscam por isso. Se você não se sente confortável com esse caminho, escolha outra profissão, de verdade. Do contrário, você vai ser mais um, mostrando pedaços do que todo mundo quer ver, sem agregar valor algum para aqueles que mais precisam de você. Pense nisso. O medo do julgamento alheio pode realmente custar a sua existência nessa profissão.