As fases do medo e insegurança nos cães.
/A palavra medo tem uma conotação forte da mente das pessoas. Ela apresenta a ideia de uma reação negativa adequada diante de um estímulo desconhecido ou algum com uma prévia associação ruim. Já a palavra insegurança sugere uma incerteza completa quanto ao desconhecido, ou seja, uma reação natural diante de algum elemento sem prévia associação.
Quando falamos de cães, especialmente filhotes, notamos que essas fases existem. Nos filhotes elas se apresentam normalmente nos primeiros 7 meses de vida, geralmente quando o mesmo é apresentado à novos ambientes, estímulos e situações. A variação pode ser notada de acordo com cada indivíduo e suas reações particulares.
Em cada ninhada temos variações de personalidades. Existem filhotes mais confiantes e outros mais inseguros. Existem uma série de fatores que contribuem para essas definições, entre eles genética (características dos pais), ambiente (local aonde nasceram e condições de criação), intervenção de pessoas (manipulação, cuidados, alimentação e manejo) e experiências adquiridas (o que e como eles experimentaram até então).
Quando trazemos um filhote para a vida doméstica somos instruídos a mantê-los em casa, ou em ambiente seguro, até que eles estejam propriamente imunizados com as devidas vacinas. Esse conselho é importante no sentido de saúde, para garantir que o filhote não seja exposto a doenças enquanto seu organismo ainda não está pronto para se defender, porém, devemos também levar em consideração o período longo que se perde, caso o filhote fique totalmente isolado, no sentido de introdução e trabalho de desenvolvimento de associações. Essa é uma janela importante, especialmente para cães que já mostram sinais de medo e insegurança desde filhotes.
Mas então o que fazer nessa fase? Como progredir com tantas limitações sem correr riscos?
Na minha experiência, ter uma boa conversa com seu veterinário é a chave para criar uma estratégia segura. Depois da primeira dose existem já algumas coisas que podem ser feitas com o filhote. Veja a lista a seguir;
Introdução do filhote à novos lugares seguros como a casa de amigos ou familiares que não tenham outros animais, ou tenham animais saudáveis e previamente vacinados, sem interação.
Introdução do filhote a novos sons, movimentos e objetos. Isso pode ser feito dentro de casa.
Introdução de convívio de confiança, sem afeto excessivo com exercícios de aprendizado constantes, alimentação nos treinos de condicionamento e momentos de descanso no seu espaço seguro.
Introdução segura a espaços sociais, como áreas do seu prédio, elevador, garagem, consultório veterinário, e eventualmente seu bairro, tudo sempre levando em consideração as condições de cada local e sua postura nesse processo.
Conforme o cão vai sendo exposto à novas situações ele vai mostrando traços de sua personalidade e sua habilidade de lidar com o desconhecido. Lembrem que nessa fase a sua influência é enorme na criação de associação dos cães. Esses são os momentos aonde você pode e deve representar a figura de proteção, então tenha a postura certa, faça as introduções de forma gradual lembrando que o que está em jogo aqui é sua relação com o cão. Essa não é a hora de jogar seu filhote nos novos cenários e “deixar rolar pra ver no que vai dar”. Você precisa advogar por ele e mostrar como ele deve agir em cada situação, com segurança e muita atenção. Saber intervir é essencial, especialmente quando falamos de introdução à outros cães e animais.
A introdução indevida, especialmente à outros cães, pode gerar uma possível reatividade no futuro. O mesmo se aplica à pessoas estranhas. É justamente aqui que muita gente erra. O filhote mais inseguro ou tímido nem sempre tem medo, mas não se sente confortável com a aproximação invasiva de outros seres. O contrário também pode acontecer. Um filhote mais inseguro pode querer buscar esse conforto em pessoas e em outros cães, fazendo dele o cão invasivo e dependente da situação. Os dois extremos não são favoráveis e é por isso que nossa atenção é necessária.
Encontrar o equilíbrio é construir a auto confiança nesse cão. Por isso a estrutura e estilo de convívio são determinantes para evolução desse quadro na fase adulta. Lembre que seu filhote vai passar a maior parte da vida dentro de casa, vivendo com você, logo, o que acontece ali dentro e como sua relação com ele é desenhada vai definir que tipo de cão você vai ter no futuro. Não alimente o que você não quer.
Considerando que cada animal tem suas características individuais o objetivo não é necessariamente transformar seu cão em algo que ele não é na sua essência, mas sim trabalhar para fazer dele o melhor que ele pode ser dentro do cenário que você vive com ele. Construa um convívio equilibrado e justo, crie uma boa rotina de atividades educativas e seguras, observe o comportamento diariamente e veja como você pode intervir ajudando e orientando no processo de educação. Muitas vezes exige mais de nós do que deles e cada cão tem seu tempo, mas todos podem florescer para viver melhor lidando com diferentes tipos de estímulos do universo urbano doméstico e social com mais confiança e tranquilidade, dentro de suas habilidades.