A nossa vida é direcionada por dois fatores muito simples, ambos motivadores, que definem nosso comportamento; eles são recompensa e consequência. Essa é a base de todo o aprendizado e formação dos padrões de hábitos. Os cães, e todos os outros animais também funcionam da mesma maneira. Por trás da aplicação de recompensas e consequências existe uma figura, que chamamos de líder. É ele que define essas regras para garantir a sobrevivência e convívio harmônico entre todos.

Liderança só existe com consistência, logo, essas aplicações são precisas, e presentes todos os dias dentro desse contexto. Na vida social humana estamos constantemente sendo recompensados ou punidos por nossos atos. São esses os elementos que nos motivam a fazer ou não fazer alguma coisa. Se não respeitamos as leis de trânsito recebemos uma multa, se fazemos barulho depois das 10 horas da noite recebemos uma advertência do condomínio, se roubamos somos presos, se formos desonestos perdemos a credibilidade.

As recompensas funcionam da mesma forma, sempre depois de agirmos da forma correta. Na infância, quando vamos bem na escola, ganhamos o apreço de nossos pais. No trabalho, quando somos produtivos eventualmente progredimos na carreira. Quando somos simpáticos e solícitos recebemos admiração e quando ajudamos os outros somos eternamente recompensados. Isso é uma regra natural.

Quando aplicamos esse conceito na vida com cães, tudo tende a fluir muito bem. É esse o significado de regras claras, ou seja, recompensa para o que é certo e consequência para o que é errado. Quase todo mundo entende o conceito de recompensa, afinal é o lado mais interessante dessa moeda. Todo mundo quer dar carinho, comida, brinquedos e liberdade de escolha para os cães. Isso é mais um reflexo de como nós nos sentimos, já que todos nós gostamos da nossa versão dessas opções.

Os problemas normalmente surgem quando falamos de consequências. Aplicar consequências, ou punição, é um conceito que deixa muita gente desconfortável. Ninguém quer corrigir porque ninguém quer ser corrigido. Porém, sem consequências não existe o aprendizado completo. Você pode recompensar tudo o que você quer, porém, quando a situação de erro se apresenta, nenhuma recompensa terá o peso de consequência. A consequência de valor é aquela realmente tem efeito e faz o cão repensar aquela escolha no futuro. Sem ela, as portas para os erros permanecem abertas e as regras passam a não valer mais.

A maioria dos casos de cães com problemas de comportamento estão exatamente nesse ponto. Existe a hesitação em corrigir porque, na mente das pessoas, se tudo que é bom está sendo reforçado, porque o cão continuaria errando. A resposta é simples, porque não houve consequência de valor. Veja que o termo correto é consequência de valor, e não apenas a consequência. O valor da consequência pode variar de acordo com o cão, sua personalidade, sensibilidade e características como indivíduo. Para alguns (poucos) cães, uma mudança de tom de voz (não gritos) é o suficiente, já para outros nada tem valor antes do nível 30 da coleira eletrônica.

Existem algumas formas de aplicar consequências dentro do processo de aprendizado e modificação comportamental. Quando falamos de obediência (andar junto, sentar, deitar, ficar, place, recall) tudo começa com a orientação do que é certo, ou seja, criando a dinâmica do exercício com a guia, para que fique claro para o cão o que é a reposta esperada. Claro que dentro desse primeiro processo de aprendizado muitas repetições e erros vão acontecer, e aqui, existem os marcadores, ou seja, o formato de sinalização para o cão, para que ele entenda se está fazendo certo ou errado. Para quem faz esse processo com a coleira eletrônica, é nessa fase que os níveis mais baixos são usados.

Já para os cães que precisam de modificação comportamental, as consequências de valor vão entrar mais cedo. Aqui estamos falando de casos aonde o cão come fezes, cava buracos no jardim, avança nas pessoas, avança em outros cães, destrói coisas da casa, foge pelo portão, rouba comida da mesa e etc. Veja que estamos falando de comportamentos que podem trazer, por si só, graves consequências para os cães. Se você não interromper esse ciclo, a natureza da atitude trará as piores consequências. Aqui a consequência é imediata, efetiva e cirúrgica para realmente eliminar o problema de vez.

Voltando para a fase de aprendizado em obediência, os reais resultados só se manifestam quando o cão já praticou constantemente o que foi aprendido, e quando foi testado, no mundo real, com essas respostas. Isso significa que, se você está treinando o place, por exemplo, em casa, e tudo vai bem, está na hora de testar o seu cão diante de estímulos. É hora de tocar a campainha e ver como seu cão reage. Se ele sair do lugar, entra a consequência. Porque? Porque ele já aprendeu o exercício e a regra continua valendo, e até ele passar por isso ele não vai aprender. É quando a regra é não negociável e o cão entende que, mesmo com aquele barulho, ele ainda está no exercício.

O mesmo vale para andar do seu lado. Se o cão já foi orientado à como fazer isso, e já praticou num ambiente mais neutro, na rua, a regra tem que valer, e ela só vale se a quebra trouxer consequências. É assim que reduzimos as possibilidades de erro do cão. Mas como fazer isso? Com os equipamentos de treinamento que te permitem ter esse poder de intervenção. Infelizmente os equipamentos mais populares, como coleiras chamadas de peitorais, não terão esse efeito.

Existem algumas opções, mas, as mais efetivas, na minha opinião, são a prong collar e a coleira eletrônica (da e-collar technologies) já que as mesmas te permitem intervir com muito mais precisão e efetividade sem usar força física. Existem ainda as guias unificadas, os enforcadores de nylon e a coleira para cães dominantes, mas cada uma delas exige um pouco mais de habilidade de manuseio, e podem não necessariamente serem tão efetivas à curto prazo. Cada um desses equipamentos deve ser usado dentro do processo de treinamento, de forma consistente, ou seja, à longo prazo, na rotina diária dos cães. Lembre que falamos de consistência, logo, não adianta abrir mão dos equipamentos quando o cão começa a melhorar. Se assim for feito, você estará abrindo as portas para os problemas voltarem, além de desistir da sua habilidade de praticar esse grau de liderança.

A prevenção e a estrutura (divisão e equilíbrio de práticas na rotina) devidas no convívio vão fazer toda a diferença. Esse ponto está diretamente relacionado à liberdade e permissividade precoces que são oferecidas aos cães. De nada adianta deixar o cachorro solto em casa o dia todo e só aplicar correções quando ele errar. Veja esse artigo que toca exatamente nesse assunto. Esse é mais um motivo pelo qual eu advogo pelo protocolo de confinamento dentro da rotina. Veja que eu disse dentro da rotina, e não o dia todo! Isso é feito com a introdução da caixa de transporte. Para saber mais sobre o uso correto, leia o artigo detalhado aqui.

Vale ressaltar que a caixa de transporte não é um espaço de castigo ou punição, pelo contrário. Lá é o lugar aonde o cão pode descansar e relaxar quando não estiver fazendo nenhuma atividade com você e não puder ser devidamente supervisionado. Os modelos que eu recomendo estão nesse link, devido à qualidade, tamanho, altura e largura, disponíveis para diversos tamanhos de cães.

A realidade que eu quero mostrar aqui é simples, e faz parte de todo o processo de aprendizado de sucesso. Orientação alimenta hábitos, regras garantem a manutenção devida dos hábitos e consequências evitam que as regras sejam invalidadas. A aplicação de tudo isso é a tradução de liderança justa. É quando fazemos acontecer de uma maneira que o cão entende, criando assim as respostas para o que queremos ver se materializar ao longo da vida.

Por quanto tempo você precisa fazer isso? Para sempre, até o fim da vida do seu cão. Liderança não é uma escolha temporária, nem uma atitude pontual, mas sim uma decisão de vida. Quanto mais consistente você for, menos necessárias serão as consequências. Se você fizer o seu papel, seu cão terá uma vida mais previsível, mais inclusa, mais tranquila e com muito menos estresse. Se você privar seu cão dessas valiosas informações, esteja preparado para uma vida de instabilidade, frustração e contínuo estresse em reclusão. Não tem segredos, não tem milagres.

A boa notícia é, as informações estão mais do que disponíveis hoje para que todos consigam fazer isso de forma efetiva e segura. Seja com ajuda profissional presencial, seja em cursos, ou até no profundo universo de conhecimentos disponível hoje, no oceano da nossa querida internet. Só depende da sua motivação para querer aprender.