Porque o tipo de equipamento de treinamento (coleira e guia) faz a diferença no resultado do trabalho com cães?
Falar do uso de equipamentos de treinamento para cães, para muitos, é um grande tabu. Por alguma razão a idéia de sugerir essas alterações acabou se tornando uma barreira tão grande que parece ser quase insuperável, especialmente para novos profissionais. Isso acontece por uma falha pessoal de posicionamento e clareza no diálogo, que acarreta eventualmente na falha do alcance de resultados da família com o cão.
Há muito tempo atrás eu escrevi um texto tocando nesse assunto. Na época eu já conseguia enxergar essa dificuldade das famílias em replicar as habilidades dos profissionais na vida real com os cães, dentro de sua rotina. Quem nunca ouviu falar de cães que se comportam super bem com o adestrador mas são um desastre com os donos? O desenvolvimento de habilidades individuais com cães é muito específico e pessoal. Algumas pessoas tem um posicionamento e inclinação mais naturais e outras não. Eu sempre observei isso e sabia que essas pessoas precisavam de algo a mais para ter o mesmo grau de sucesso.
Além da questão de habilidades pessoais existe ainda a questão da comunicação clara com o cachorro. Pode não parecer mas cães precisam aprender com muita clareza o que é esperado deles. Isso só acontece com o uso de motivação correta, ou seja, reforçar o que você quer e corrigir o que você não quer. Os dois elementos são motivadores, e ambos precisam existir. Está aqui o termo assustador que muita gente não gosta de ouvir, correção. Saber corrigir cães da forma correta no tempo certo também requer aprendizado, e para colocar isso em prática é preciso ter no seu arsenal equipamentos de treinamento que te ajudem a fazer essa comunicação do jeito certo.
Quando o ego fala mais alto.
Eu já escutei inúmeras vezes, de diversos profissionais e até de pessoas aleatórias, que o uso de equipamentos de treinamento é feito apenas por pessoas preguiçosas ou inaptas para treinar sem os mesmos. Eu sempre achei esse argumento curioso já que gravita exatamente para uma arena de agressividade passiva contra o ser humano. É como se o cachorro e a família em si não tivessem que ser considerados. O ego fala mais alto e vira uma briga de quem é melhor porque consegue fazer tudo só com uma guia e coleira simples. Essa postura, ao longo dos anos, vem destruindo milhares de relacionamentos entre cães e humanos, além de fazer do mercado de adestramento e comportamento canino uma arena de batalha de egos.
Veja como é simples identificar a real razão por trás disso. As pessoas que trabalham com adestramento e comportamento canino são prestadores de serviços. O papel desses profissionais é ensinar as pessoas, ou seja, os donos desses cães a como lidar com os mesmos dentro e fora de casa, no contexto da vida que essa família tem. O resultado de sucesso nada tem a ver com o que o profissional conquista com aquele cachorro sozinho. Isso não é mais do que a obrigação do profissional, afinal é para isso que ele é pago. A real mudança está na capacidade do profissional de fazer a família obter esse resultado, dentro e fora de casa, na sua rotina de vida.
Analisando dessa forma podemos ver que quando não oferecemos opções de equipamentos de treinamento diferentes para a família, estamos limitando a mesma a tentar replicar os resultados teoricamente obtidos por alguém que só faz isso, todos os dias, com muito mais experiência. Será que é justo? Será que essa postura é realmente correta? Aonde está a consideração pelos seres humanos da equação? Será que assim é a melhor forma de ajudar alguém mesmo? Será que o ego não está falando mais alto? E o cachorro? Será que é justo deixar o cachorro passar meses ou até anos tendo enormes dificuldades de fazer as coisas mais simples da vida, como caminhar no bairro, acompanhar os donos em eventos da vida e até mesmo conviver dentro de casa?
É curioso ver como a necessidade de validação de muitos profissionais acaba tendo um resultado devastador para muitas famílias. Eles acabam precisando tanto ser vistos como heróis salvadores que esquecem do seu real papel na equação que seria ajudar e instruir e as pessoas. Como eu sempre digo, no final, os cães pagam um preço muito alto por isso. Mas essa é apenas uma das razões pelas quais os equipamentos de treinamento não são regularmente sugeridos.
Quando o medo da rejeição e retaliação cala.
Outra razão bem comum para essa omissão por parte de muitos profissionais é o medo da rejeição e possível retaliação do público de forma geral. Todos nós sabemos que o treinamento da moda é o treinamento puramente positivo. É o que vende porque apela para o lado mais frágil e fantasioso do ser humano. Milhares de profissionais usam slogans com frases sugestivas sempre direcionando o público para essa interpretação. Muitos evitam usar expressões como correção, punição, restrição e limitação. Todo diálogo é feito usando termos mais abstratos sem nunca falar diretamente sobre a possibilidade de disciplina real na rotina com os cães.
Esse grupo normalmente é aquele que não se manifesta diretamente sobre o assunto, e quando a situação se apresenta e o assunto vem à tona, as respostas são sempre genéricas e sem objetividade. Existe já ai uma tentativa de evitar uma possível resposta negativa, seja do cliente ou de uma audiência de forma geral. Mais uma vez o cliente final sai prejudicado. Veja que as pessoas que contratam esses serviços estão buscando soluções. Elas querem ver o resultado se materializar no mundo delas. Se nós, como profissionais, não aprendermos a ter objetividade suficiente para ensinar as coisas de forma clara, o cliente sempre vai sair perdendo.
Mas aonde entram os equipamentos de treinamento nessa situação? Aqui os equipamentos de treinamento, quando sugeridos, são feitos como o último recurso e usados de forma meio camuflada (embaixo de bandanas ou roupinhas). É como se já existisse no profissional uma culpa, ou constrangimento por ter que sugerir. Esse sentimento nada tem a ver com a família mas sim com o desconforto do profissional de eventualmente ser conhecido como alguém que usa, e poder ser abordado por alguém sobre o assunto. Eu já tive a oportunidade de atender clientes que passaram por esse tipo de atendimento prévio. O relato é sempre o mesmo. A coleira de treinamento, seja e-collar ou prong collar, é sugerida como último recurso e o cliente tem muito pouca informação de manuseio diário. O cliente acaba absorvendo esse mesmo constrangimento e não se sente à vontade ou seguro para usar.
O mais triste dessa situação é saber que todo mundo saiu perdendo. O cliente saiu sem confiança e com medo, o profissional colocou suas inseguranças e problemas de aceitação social como prioridade, e o público em geral foi mais uma vez privado de aprender sobre os possíveis grande benefícios do uso apropriado dessas ferramentas.
A realidade dos fatos.
Depois de muitos anos conhecendo e convivendo, direta ou indiretamente com ou outros profissionais, foi possível perceber algumas atitudes que prejudicam o público geral que busca esses serviços.
Grupos de profissionais e entusiastas da área tem interesses totalmente diferentes e falam praticamente idiomas contrários de pessoas comuns (donos de cães). Eu vejo novos profissionais tão empolgados em aprimorar seus conhecimentos teóricos, em estudos científicos por exemplo, para poder usar termos mais elegantes e ter um diálogo mais intelectual. O problema é que esse interesse não necessariamente evolui sua habilidade de atuar com pessoas que não querem saber sobre termos complexos, estudos ou teorias. Pra o cliente final não importa o porque, o estudo, e o quão intelectual seu discurso pode parecer. O que vale para ele são resultados que ele consegue aplicar na vida dele com o cachorro em questão.
Estudar é bacana e todos nós gostamos, mas fazemos isso porque essa é nossa paixão. O cliente não tem nada a ver com isso. Ele quer aprender com você, de forma simples e objetiva, sobre soluções. Muitos clientes que já atendi nunca tinham ouvido falar sobre tipos de coleiras diferentes, simplesmente porque esse assunto não é discutido abertamente. Muitos desses clientes receberam a informação de forma super positiva e até me perguntaram porque essa informação não circula mais abertamente.
O que nunca aconteceu, em todos os meus anos nessa profissão, foi a abordagem de qualquer cliente sobre estudos científicos, possíveis razões profundas pelas quais os cães se comportam de forma negativa ou questionamentos sobre quais certificações ou cursos eu já tinha feito. Curioso não é?
A conclusão aqui é simples. O trabalho de adestramento e comportamento canino se resume a habilidade de ensinar pessoas comuns a viverem com cães em sociedade. Esse é um trabalho para pessoas, já que são elas que precisam adaptar e viver com esses cães em suas vidas.
Mas aonde entram os equipamentos de treinamento?
Considerando o que foi dito acima, fica mais fácil perceber que pessoas comuns não vão dedicar centenas de horas por dia aprendendo sobre a origem dos cães e o que dizem todos os estudos científicos. O que essas pessoas precisam é de um profissional que possa mostrar como fazer acontecer. Nesse momento entra a questão de habilidades pessoais e eficácia no trabalho. Bons equipamentos de treinamento trazem resultados em um curto período de tempo, o que é o ideal para a família. É justamente aqui que os famosos argumentos de preguiça e inaptidão surgem. Poder materializar resultados rápidos, na minha opinião, é o que faz de você um profissional que prioriza o cliente e o cachorro. Tem mais do que dedicação e aptidão nisso, tem compaixão pelo outro.
Esperar que o cliente fique semanas ou meses fazendo inúmeras tentativas frustradas de fazer o cachorro andar na guia com calma por exemplo, só para satisfazer a necessidade do profissional de se ver projetado no cliente é simplesmente injusto, especialmente quando existem no mercado equipamentos que podem potencializar a comunicação e trazer mais confiança no cliente e na sua habilidade de controlar e conduzir seu cachorro em diversas situações.
Muitos novos clientes já sofrem uma enorme influencia da conduta social distorcida sobre cães, e o que eles precisam é de um profissional que os ajudem a entender como sair dessa bolha de ilusões, com muita confiança. Privar o cliente de um bom aprendizado sobre equipamentos que podem, efetivamente, mudar a vida deles com seus cães é um ato de omissão e falta de compromisso real com o serviço proposto.
Compartilho aqui com vocês alguns casos aonde os equipamentos de treinamento, introduzidos de forma correta, trouxeram incríveis resultados para famílias ao redor do mundo, em curtos períodos de tempo.
Bons equipamentos de treinamento também devem ser usados com a orientação de um profissional experiente.
Todo processo de modificação comportamental requer mudanças, dedicação e compromisso.
Não existem milagres, mas também não existem segredos.
Se você tem problemas com seu cão as soluções estão ao seu dispor e podem se materializar muito mais rápido do que você imagina. Basta deixar de lado os tabus, as inseguranças, os medos e a preocupação com a opinião alheia, e tentar. Os resultados podem te surpreender!